Dec
2009
Snu
Um dia estava olhando uma imagem, não sei ainda seu autor, e decidi tentar escrever um conto. Eu o considero meu primeiro conto. Hoje eu o reescrevi. Mas eu quero manter os dois comigo, talvez um dia reescreva de novo, e de novo.
O conto fala da eternidade, para mim.
Snu é uma mulher simples, vive em um mundo igualmente simples.
Sem sol ou estrelas, sem lua ou continentes, um mundo de ruÃnas alagadas, imensas colunas aparecendo aqui e ali, como brotando do oceano estático. O único movimento é das bolhas fosforescentes que saltam do oceano para o céu, elas brilham azul, dando ao horizonte uma cor especial.
Snu dança em seu lugar, não existe nada para medir o tempo, então tudo é eternidade, tudo é sempre igual, ela dança, brinca com as bolhas que pode alcançar, tenta juntá-las, torná-las maiores, à s vezes as estoura e assiste a chuva de minúsculas gotÃculas luminosas.
Ela não tem nada além disso, não veste roupas, não tem objetos, não tem um espelho, é sozinha.
Tenta cantar, mas não tem palavras porque não precisa inventá-las, não há para quem dizer.
Um dia – ou não, não um dia, já que é sempre o mesmo momento, a mesma eternidade – uma bolha com mais brilho sai do oceano, ela sobe tão lentamente e se aproxima cada vez mais de Snu, ela, ansiosa, senta-se para ficar mais perto. Quando ela sobe mais e está à altura de seu rosto ela estende a mão, quase tocando a bolha, e se levanta lentamente – ou rapidamente, não sabemos como era o tempo, é tudo eternidade.
Quando quase já lhe passa a altura que podia alcançar ela toca a bolha.
A bolha estourou.
A chuva de gotÃculas brilhantes foi tão mais brilhante que o usual…
Snu se admirou mais, tentou recolher um pouco daquele lÃquido brilhante tão escasso, ela se atirou tentando recolher o máximo que podia, encheu a mão com duas ou três gotas. Oh, era tanto mais do que conseguiu antes!
Mas perdeu o equilÃbrio, seus pés escorregaram, tinha que soltar o lÃquido e agarrar-se. Não, não ousaria derramar o tão precioso lÃquido.
Snu era uma mulher simples, vivia em um mundo igualmente simples.
Caiu no oceano, e como nunca antes esteve nele, não tentou nadar, não prendeu a respiração. Era a eternidade, não aprendeu os instintos básicos de sobrevivência, não precisou deles antes na simplicidade de seu mundo.
E afundou, sentiu a pressão do mar, como um abraço. Assistiu o lÃquido de sua mão se dissolver, enquanto sua visão se turvou.
Discussão
mhayk diz:
31 Mar 2010 às 18:53ela conseguiu se afogar isso poderia ter levado uma eternidade não ?