Na visão comum, o tempo é linear: sucessão de passado, presente e futuro. E é tão comum, que soa absurdo pensá-lo de outra forma.
Não conheço muitas outras:
Existe a circular: o tempo é como é hoje, e caminha para ser de novo como foi ontem. O passado é o futuro, é como as coisas são, o futuro é como é agora, é o que há de ser.
Também tem a ideia do tempo espiral: uma mistura do cÃrculo e da linha: o passado fica atrás; existe um futuro, ele tem elementos do passado, segue um ciclo, mas é diferente, muda.
Existe também a ideia do tempo como a quarta dimensão: e, como se caminha para frente e para trás, como se sobe uma escada, se avança para o futuro, em velocidade constante, ou não (e eu questionaria como se pode dizer que o tempo tem mais velocidade se ela só é medida considerando o tempo como constante, mas é fora do tópico e se chega a uma conclusão sozinho, se pensar).
Não tento alinhar minha realidade com uma teoria engendrada por outros. Vivo minha vida como a sinto e assim só errei quando esperei isso dos outros. O tempo não existe. Passado, presente e futuro são o mesmo emaranhado, confuso e não construÃdo “na ordem”. (Aquela sensação de reconhecer uma pessoa, muitas vezes penso-a ser a sensação do futuro desenhado antes do presente).
Como uma fórmula de matemática: a alma; em determinado tempo; com determinada companhia; em determinado lugar; e outros fatores, como memórias, datas, climas, humores: todos causando um resultado; uma situação e variação em suas variantes; levando a acúmulos, deficiências, nulidades; numa complexa fórmula, quase imprevisÃvel.
Eu acho que é sobre isso que se constroem as presciências.
Acho que o passado pode voltar, com força; que pode ser recriado (e isso acontece na biologia: não é normal nascer uma criança com a mesma aparência fÃsica de um avô ou outro parente?).
Então, eu não acredito que o passado é lá, partido e esquecido, desimportante, imutável, perdido e deixado. Nem o futuro é inalcançável, apenas sonho e projeto, rascunho e irreal. Passado, presente e futuro acontecem juntos: agora eu nasço, eu morro, eu escrevo, eu durmo, eu como; agora eu sou a terra onde as cinzas do meu corpo descansam, eu sou o vento que as carrega, eu sou o útero de minha mãe; agora eu sou o alimento de meus pais.
Essa sensação é fora do tempo, não um “para sempre”: é eternidade.
“Meu distúrbio, não diagnosticado pelos mais renomados especialistas, não aceito pelos filósofos e religiosos, torna insuportável a minha vida. Todos à minha volta temem a morte, eu temo o nascimento. Devo explicar a minha situação, porque não tenho amigos que saibam dela e pretendo terminar a minha vida de uma forma que me seja familiar […]