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13
Dec
2010

Daniel E.

“Meu distúrbio, não diagnosticado pelos mais renomados especialistas, não aceito pelos filósofos e religiosos, torna insuportável a minha vida. Todos à minha volta temem a morte, eu temo o nascimento.

Devo explicar a minha situação, porque não tenho amigos que saibam dela e pretendo terminar a minha vida de uma forma que me seja familiar (já que me é possível, penso que a ninguém mais esta oportunidade foi dada).

Não me lembro de meu nascimento. Ninguém o lembra, mas meu caso é diferente: lembro-me da minha morte. O futuro preenche minha memória, minhas lembranças foram chamadas de presciência, vidência e outras palavras que aludem ao que duvidam; logo não sei nada sobre o passado.

Meu distúrbio é viver do avesso: morri, rejuvenesci, passei a trabalhar, vi pessoas queridas levantarem dos túmulos (eram-me queridas, contudo nunca me deram importância), meus cabelos cresceram e ganharam cor. Quando me perguntavam como foi meu dia não sabia o que dizer.

Eu fui sempre uma mácula na realidade alheia, um defeito a ser rejeitado.

E agora meu tempo se aproxima do fim, já sou adolescente e temo o nascimento, que será o fim de minha vida. Tive a vantagem de ler sobre relatos do nascimento, do trauma que causa ao bebê, da dor, do choro; soube de outras formas de parto, mas como pedir a minha mãe que mude seu passado? Ela mesma não pode ler sobre a morte, que eu já conheço, e não pode me entender.

Na verdade, hoje, meus pais quase não falam comigo. Falam o mínimo, oferecem comida, levam-me à escola, perguntam sobre as notas, brigam com isso ou aquilo, mas nunca conversam sobre meu distúrbio.

Não, não quero enfrentar este fim.

– Daniel E.â€

Esta foi a carta encontrada ao lado do corpo de um garoto prodígio que suicidara jogando-se de uma ponte, ninguém lhe conhecia e não constava em nenhum registro: oficialmente, não tinha passado.

Discussão

Arthur diz:

Puxa que post legal, o nascimento sendo o fim.Parabéns.



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Daniel E.

“Meu distúrbio, não diagnosticado pelos mais renomados especialistas, não aceito pelos filósofos e religiosos, torna insuportável a minha vida. Todos à minha volta temem a morte, eu temo o nascimento. Devo explicar a minha situação, porque não tenho amigos que saibam dela e pretendo terminar a minha vida de uma forma que me seja familiar […]

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