ETs e o ASCII

O HypeScience noticiou esta semana que “Aliens deixa[ra]m um teste de raciocínio em um campo de trigo”: era um daqueles círculos deixados em plantações; mas este, diferente, partido em doze partes e cheio de linhas, tinha um código que a ufóloga Lucy Pringle identificou como a identidade de Euler, considerada a mais bela de toda a Matemática.

Leonhard Euler foi um matemático simpático que também brincou com Quadrados Mágicos. E sua identidade é a mais bonita porque tem os números e (análise), i (álgebra, unidade imaginária), pi (geometria), 1 (elemento neutro da multiplicação) e 0 (elemento neutro da adição); e as três operações básicas:  adição, multiplicação e exponenciação (O @C4pim me explicou isso). Por mim, só poderia ser mais bonita se tivesse o phi (o número de ouro).

Não satisfeito com a simples enunciação do site, pesquisei a interpretação e descobri que não representa nenhum padrão geométrico. Cada raio é marcado com oito linhas, fazendo um código binário em ASCII escreve:

e^(hi)pi)1=0

Ainda é a identidade errada! A correta é esta:

e^{i \pi} + 1 = 0 \,\!

A beleza do desenho e a ideia de representar uma fórmula numa forma de linguagem universal me animaram, ainda mais que os traços me lembraram o Ogham, sistema de escrita celta. Daí aparece que é um código ASCII? Acabou com toda a graça da coisa: não é padrão geométrico; e, certamente, ET nenhum se daria ao trabalho de fazer um símbolo para ser interpretado em linguagem de 8bit, numa linguagem recente, falha; e, pior, dizendo a fórmula de uma forma nossa, identificando os valores com as mesmas letras que nós lhe damos, fácil imaginar um alienígena chamando a razão perímetro-diâmetro por uma letra grega!

Não vem em questão se isso é realmente de visitantes extra-terrestes ou não.

Mas gostei do padrão geométrico, fiz um outro círculo, com a mesma ideia de código binário, representando a sequência de Fibonacci, que acaba levando ao número phi.

Cadu

cadu: s.m. (2007) indivíduo estranho e em constante mudança; que se identifica com ventos e esquilos; de amor pervertido e, às vezes, ofensivo; dotado de sadismo quase doentio. ¤ etim redução Carlos + Eduardo

pecado é meu amor

pecado é meu amor,
monstruoso, profano,
lástima, insano.
é ao puro, terror.

carinho assassin’,
forca em abraço,
em noite sem fim
sufoco devasso.

ei! amor chinfrim!
por que tanta dor?
não és meu vigor.

meu amor crasso,
púrpura ímpar flor,
saudade e langor.

Minha tentativa de Haikai

A música toca.
Brilham estrelas no chão,
reflexos de luzes.

O que é Haikai:

Haikai (em japonês:  Haiku ou Haicai) é uma forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade. Os poemas têm três linhas, contendo na primeira e na última cinco ou mais caracteres japoneses (totalizando sempre cinco sílabas), e sete ou mais caracteres na segunda linha (sete sílabas). Em japonês, haiku são tradicionalmente impressos em uma única linha vertical, enquanto haiku em Língua Portuguesa geralmente aparecem em três linhas, em paralelo.

O principal haicaísta foi Matsuô Bashô (1644-1694), que se dedicou a fazer desse tipo de poesia uma prática espiritual.

wikipedia

Povo do Desejo

A tribo agrupada
por eras mui goza,
se aflora em rosa
muito perfumada.

A poesia e o urro,
a dança e o sussurro,
do coito em volta,
sobre a terra nova.

Por muitas estradas,
mui caminhada,
viajou a semente
que por fi’é nascente.

A glória passada
no espelho visada
em nova paixão
ressurge com’antes.

Força à tradição
que em terras distantes
espirais e círculos
em pedra inscreve.

Mares viajou,
não foi-lhes vencida,
a eles devorou,
neles refletida.

Dinameme

Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Quem não deixara nunca de querer-te!
Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!

Como já pera sempre te apartaste
De quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura Morte
Me deixou, que tão cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!

Oh mar! oh céu! oh minha escura sorte!
Que pena sentirei que valha tanto,
Que inda tenha por pouco viver triste?

Luís de Camões

Não tem história que me fascina mais que a morte de Dinameme. Deixa para trás a guerra de Tróia, o amor de Psiquê e Eros, e até toda a série Duna. Passa História e fantasias.

Fechamento do dia

Fim de dia, momento de pensar. Leio? Vejo algum filme? Procuro uma música nova? Durmo? E vem também o pensamento: “o que eu fiz hoje?”. E a ele segue outro, terrível: “e pelos meus sonhos e projetos?”

Este último, tenho certeza, já levou muita gente à loucura, talvez ao suicídio. A resposta é sempre insatisfatória. E tem gente que resolve não se perguntar mais, que não pensa mais nisso, que “amadurece” e vai trabalhar, esquece a poesia da vida (e chamem isso de imaginação, espiritualidade, amor, infância ou esperança, são como tentáculos do mesmo polvo, da mesma ideia).

Mas cá pensei: “não fiz nada, ou não notei nada do que fiz? E se não fiz, por que não? Eu deveria pensar nisso antes de começar qualquer coisa durante o dia. Se vou trabalhar é para conquistar algo, e se vou pegar o ônibus lotado é para chegar onde escolhi ir. E se algo foge disso não seria o ponto de trocar?”

Também tem a questão, é mesmo o meu sonho ou gosto de imaginá-lo porque meu sonho mesmo é sempre querer algo que não tenho?

Sincronia

O camarada chegou sorrateiramente. Forçou a maçaneta, porém não conseguiu abrir a porta.

Não contara com isso quando planejara essa empreitada.

Precisava que a sala de segurança estivesse destrancada para levar as fitas de vídeo que o incriminavam do roubo que acabara de fazer àquela joalheria.

Precisava pensar, e rápido. Sabia que logo o segurança sairia do banheiro, e ele era um sujeito metódico, sempre olhava seu relógio, vivia em inalterável rotina: todo dia, às três e catorze, escondia-se para fumar, por três minutos e vinte e oito segundos. O invasor conseguira sincronizar seus relógios com muito custo, descobriu que o sujeito tomava café todo dia no mesmo banco da mesma padaria e foi sentar-se a seu lado, espionou o relógio (que ele mostrava muito pouco, enquanto se decidia entre o pão e o copo) e calcular a diferença com o seu, para depois ajustá-lo sem suspeita.

Já deixara passar dois minutos e doze segundos, tinha a chave da loja, entrara, tomara alguns diamantes e tentou entrar na sala. Não podia fazer barulho, não podia arrombá-la.

Correu à rua, tentaria entrar por uma pequena janela, jogou a bolsa primeiro, depois se aventurou: saltou, agarrou-se e esqueirou-se pela janela. Sorria. Tinha sorte, pensava, a rua estava deserta e ninguém lhe notou a presença.

Mas seu tempo ia encurtando-se, apressou-se. Retirou do aparelho a prova de seu crime. Olhou em torno numa procura vã por uma cópia da chave da porta. Pularia a janela na fuga. Porém escorregou. Caiu estatelado no chão, chocado com o barulho que fizera. Atirou-se à porta, tentou forçá-la, puxando com toda sua energia. Ouvia passos: estava perdido, pensava.

A porta se abriu, sem barulho de chave. Ele, em sua ansiedade, distraiu-se e a forçou para o lado errado, estava destrancada.

Ficou estuporado com a surpresa, perdeu-se no tempo, em choque, preso em flagrante. Ao realizar seu plano perfeito, esqueceu-se de que a porta se abria para fora.

Antigo Inglês

O pai-nosso em antigo inglês:

Fæder ure þu þe eart on heofonum,
Si þin nama gehalgod.
To becume þin rice,
gewurþe ðin willa, on eorðan swa swa on heofonum.
Urne gedæghwamlican hlaf syle us todæg,
and forgyf us ure gyltas, swa swa we forgyfað urum gyltendum.
And ne gelæd þu us on costnunge, ac alys us of yfele.
Soþlice.

fonte: wikipedia



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13
Dec
2010

Daniel E.

“Meu distúrbio, não diagnosticado pelos mais renomados especialistas, não aceito pelos filósofos e religiosos, torna insuportável a minha vida. Todos à minha volta temem a morte, eu temo o nascimento. Devo explicar a minha situação, porque não tenho amigos que saibam dela e pretendo terminar a minha vida de uma forma que me seja familiar […]

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