Ingênuo pensar que uma lÃngua é capaz de comunicar todos os conceitos possÃveis. Como o é pensar que nada sobra de desconhecido no mundo depois que tudo foi mapeado, ou que nada acontece sem lógica.
Existe um mundo inteiro conceitual, em constante transformação, lentas ou não. Cada palavra é indicação de uma região no mapa deste mundo; uma metáfora, poesia ou figura de linguagem é uma aproximação do ponto almejado, como cÃrculo sobre a região sem nome.
Mas uma lÃngua é só um pedaço de terra, com suas muitas cidades e estradas, seus habitantes frÃvolos, suas leis contraditórias e seus arranhacéus paradoxais; o horizonte não cabe em um mapa.
Eu passei um tempo tentando encaixar o que sinto nos trilhos das palavras, mas sentimentos não se submetem, montanhas não desviam para que estradas passem. Por muita confusão passei.
Cheguei aqui e decidi não mais adaptar o que sinto a uma lÃngua: adapto a lÃngua a mim, e que ela cresça e fortifique-se, ou não pode sentir vislumbre de minha alma alienÃgena.
Não mais usarei a catacrese de falar de amor, se o que sinto não é o que chamam por este nome. Deixa-me mostrar além da superfÃcie: o horizonte, o subsolo, e os ventos no céu que não podem aparecer em um mapa. Esqueça os nomes.
“Meu distúrbio, não diagnosticado pelos mais renomados especialistas, não aceito pelos filósofos e religiosos, torna insuportável a minha vida. Todos à minha volta temem a morte, eu temo o nascimento. Devo explicar a minha situação, porque não tenho amigos que saibam dela e pretendo terminar a minha vida de uma forma que me seja familiar […]