May
2010
Sincronia
O camarada chegou sorrateiramente. Forçou a maçaneta, porém não conseguiu abrir a porta.
Não contara com isso quando planejara essa empreitada.
Precisava que a sala de segurança estivesse destrancada para levar as fitas de vÃdeo que o incriminavam do roubo que acabara de fazer à quela joalheria.
Precisava pensar, e rápido. Sabia que logo o segurança sairia do banheiro, e ele era um sujeito metódico, sempre olhava seu relógio, vivia em inalterável rotina: todo dia, às três e catorze, escondia-se para fumar, por três minutos e vinte e oito segundos. O invasor conseguira sincronizar seus relógios com muito custo, descobriu que o sujeito tomava café todo dia no mesmo banco da mesma padaria e foi sentar-se a seu lado, espionou o relógio (que ele mostrava muito pouco, enquanto se decidia entre o pão e o copo) e calcular a diferença com o seu, para depois ajustá-lo sem suspeita.
Já deixara passar dois minutos e doze segundos, tinha a chave da loja, entrara, tomara alguns diamantes e tentou entrar na sala. Não podia fazer barulho, não podia arrombá-la.
Correu à rua, tentaria entrar por uma pequena janela, jogou a bolsa primeiro, depois se aventurou: saltou, agarrou-se e esqueirou-se pela janela. Sorria. Tinha sorte, pensava, a rua estava deserta e ninguém lhe notou a presença.
Mas seu tempo ia encurtando-se, apressou-se. Retirou do aparelho a prova de seu crime. Olhou em torno numa procura vã por uma cópia da chave da porta. Pularia a janela na fuga. Porém escorregou. Caiu estatelado no chão, chocado com o barulho que fizera. Atirou-se à porta, tentou forçá-la, puxando com toda sua energia. Ouvia passos: estava perdido, pensava.
A porta se abriu, sem barulho de chave. Ele, em sua ansiedade, distraiu-se e a forçou para o lado errado, estava destrancada.
Ficou estuporado com a surpresa, perdeu-se no tempo, em choque, preso em flagrante. Ao realizar seu plano perfeito, esqueceu-se de que a porta se abria para fora.