Apr
2010
Conto: Conversa de ponto de ônibus
Era sábado, fim de tarde, Rafael estava ansioso e preferiu sair mais cedo de casa. Ia encontrar alguém.
Foi até o ponto de ônibus e lá esperava um casal gay, de mãos dadas, e um homem com expressão de poucos amigos, afastado, olhando a toda hora na direção que o transporte viria.
Logo que o casal saiu, o outro se aproximou de Rafael e começou a resmungar:
– É um absurdo mesmo! Tão pouca vergonha! Você não acha?
– O quê? – respondeu Rafael, surpreso com a abordagem.
– Essa pouca vergonha! Dois homens de mãos dadas no meio da rua, para todo mundo ver!
Rafael o encarou, pensando no que diria, mas não precisou. O senhor já recomeçou seu discurso:
– Essa abominação devia ser crime! Imagina se meu filho escolhe uma vida dessa! Eu o deserdo, expulso de casa! Vai ser difÃcil não matar!
– Mas eles não fizeram nada tão abominável assim, só estavam de mãos dadas.
– Ah! Engano seu! Essa escória suja o ar! Não se envolva com essa gente! Você parece moço direito. Eles são pervertidos pelo demônio.
Rafael desistiu da argumentação, já estava cansado de ouvir conversas assim. O coletivo que esperava se aproximava, seu rosto não mostrava mais o mesmo desconforto. Ele não deu sinal, mas o veÃculo parou, alguém ia descer.
Sorriu, era quem esperava, seu namorado. Trocaram um beijo e começaram a caminhar.
Rafael olhou para trás e observou aquele moço que estava boquiaberto, confuso. O automóvel começou a sair também, e aquele desagradável resmungão tentou correr, mas já tinha perdido a chance de tomar seu ônibus.